domingo, 7 de outubro de 2018

"Thelma": drama adolescente com ecos de terror chega aos cinemas portugueses


Novo filme de Joachim Trier, realizador de "Oslo 31 de Agosto", estreia em Portugal após muitos elogios no mercado internacional.

Joachim Trier, realizador de “Oslo 31 de Agosto” e “Ensurdecedor”, tem o seu mais recente trabalho estreado em Portugal, "Thelma", explorando dentro de um solene e meditativo drama adolescente as possibilidades dos artifícios do cinema de género – nomeadamente vindos do terror.
As sessões serão antecedidas pela curta-metragem “A Estranha Casa na Bruma”, vencedora da competição nacional da última edição do Motelx.
A obra assinada por Guilherme Daniel inspira-se num conto de H.P. Lovecraft e narra de forma atmosférica a trajetória de um peregrino que encontra abrigo numa casa sobre um penhasco.

"BODY HORROR"

Por estas alturas os postulantes do cinema de autor andam fascinados pelas possibilidades visuais e viscerais de elementos de “body horror” – e “Thelma” é o mais recente da praça nas salas portuguesas.
Tendo como espinha dorsal a história da adolescente Thelma (Elli Harboe), uma tímida rapariga do interior que vai estudar em Oslo, Trier debruça-se ainda por outros caminhos do cinema de terror dos anos 70 – género com o qual cresceu. O resultado é uma peça com o ritmo de “Oslo 31 de Agosto”, mas com simbolismos que remetem para o fantástico.
À medida que a história avança, surgem ecos do vingativo paranormal de “Carrie”, sombras do sobrenatural sobre os gélidos exteriores de “Aquele Inverno em Veneza” ou da sumptuosidade de “Suspiria” e o uso de animais como cobras e pássaros agressivos.
Em termos temáticos, “Thelma” avança por questões como ortodoxia religiosa, super proteção familiar e o elemento “queer” – este explorado com notória sensualidade e usado como uma faísca potencialmente destruidora do mundo mental da protagonista.

EPILEPSIA PSICOLÓGICA

O filme abre com uma cena brutal: numa caçada, um pai desvia a arma do animal para apontar para a cabeça da filha de seis anos que, inocentemente, olha para a gazela à espera do tiro.
Uma elipse introduz o espectador no cenário onde se desenrolará parte da ação: o campus universitário de Oslo, onde ela agora estuda Biologia. Solitária e introvertida, presta contas diárias aos pais por telemóvel, parecendo uma adolescente rigidamente controlada por uma família religiosa e conservadora. Mas nem tudo é o que parece.
A situação dela agrava-se quando passa a ter vários episódios do que parecem ser ataques epiléticos, num quadro angustiante onde se revelam uma capacidade de desaparecer com pessoas “incómodas” ou comunicar-se com elas de forma “telepática”. Mais grave ainda é com começa a sentir uma forte atração pela colega Anja (Kaya Wilkins).
Segundo Joachim Trier, conforme entrevista a Collider, o grande terror de cada um é ter os seus piores defeitos fora de controlo.
Para além disto, o tipo de mal que parece afetar a protagonista, uma espécie de epilepsia despoletada por razões psicológicas, realmente existe. De acordo com o cineasta, pesquisas feitas junto dos médicos revelaram que, no caso de muitas adolescentes, a homossexualidade estava na raiz dos seus problemas de aceitação – o que terminou por trazer o elemento “queer” para o filme.

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